PASSOS COELHO versus FIDEL CASTRO

NO, LA HISTORIA NO LOS ABSOLVERÁ !

“Reconheço hoje o meu erro e confesso a minha culpa. Não fui útil a ninguém; a ninguém amei e socorri; nada acrescentei à hereditariedade das gerações; não plantei sequer uma árvore, não semeei sequer uma flor, não escrevi uma única página e muitas vezes não dei esmola a um faminto, para evitar o incómodo e a fadiga de tirar a bolsa”.
                                                                            Defesa de Taimur
                                                  Juízo Universal, Giovanni Papini

A agência noticiosa nacional, Lusa, elaborou hoje um despacho que os meios de comunicação social divulgaram. É do seguinte teor:

O primeiro-ministro português admitiu não saber se a história o absolverá das opções que tomou como governante, e assumiu que “a maioria dos portugueses“, incluindo ele próprio, “não gostou das medidas difíceis” do seu governo.
Não sei“, disse Passos Coelho, quando interrogado sobre se a história o absolverá, numa entrevista publicada esta segunda-feira, 31 de Março de 2014, pelo diário “O País”, de Maputo.
Não tenho uma bola de cristal, nem a história fala comigo, isso será observado no futuro“, prosseguiu Passos Coelho.

la historia me
O importante, em primeiro lugar, é reconhecer, de forma extraordinária, como Portugal e os portugueses têm compreendido a sua situação e têm realizado sacrifícios muito grandes para vencer estas dificuldades“, acrescentou.
No entanto, Passos Coelho admitiu que “a maioria dos portugueses“, incluindo ele próprio, “não gostou das medidas difíceis” do seu Governo.
Tivemos que percorrer este caminho para agora poder ter o crescimento da economia e para podermos ter um futuro melhor para todos os jovens portugueses e de todos os portugueses“, justificou o primeiro-ministro.
Na entrevista, Passos Coelho reconheceu que “não tem sido fácil” à Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) “encontrar um instrumento multilateral que garanta a livre circulação” na própria organização.
Temos de construir um clima, também, de confiança muito grande que nos permita aumentar essa circulação no seio da nossa comunidade“, disse o primeiro-ministro, lembrando que a adesão de Portugal ao espaço Schengen, na União Europeia “é uma limitação, mas também pode ser uma grande oportunidade” para a livre circulação.                                       (fim da transcrição)

Passos Coelho citou Fidel Castro. O célebre líder da Revolução Cubana, por la historia me absolveraocasião do histórico julgamento que aconteceu, a 16 de Outubro de 1953, na sequência do frustrado assalto ao Quartel Moncada, assumiu a própria defesa e defendeu o direito dos povos lutarem contra a tirania. Condenado a quinze anos de prisão, foi no presídio de Isla de Pinos que reelaborou e redigiu os argumentos usados na auto-defesa.
Este texto foi publicado e distribuído clandestinamente em 1954. Intitulou-se precisamente La Historia me absolverá.
Sessenta anos depois, como pequeno aprendiz de revolucionário (ia a escrever: de feiticeiro por causa da “bola de cristal“, mas o respectivo sindicato certamente me processaria), o nosso primeiro-ministro acha-se com dimensão suficiente para encarnar (!?) Fidel.
O revolucionário cubano foi julgado no próprio hospital onde, sob custódia, convalescia dos ferimentos sofridos no assalto. E, aí, ele começou: “A justiça deve estar muito doente para convocar os ilustres magistrados de tão alto tribunal para trabalhar num quarto de hospital”. Continuou, dirigindo-se ao seu acusador: “Em que país está vivendo o senhor procurador?

Não tenho qualquer procuração para responder a Passos Coelho. Faço-o por conta própria, pelo direito constitucional à indignação que me assiste, motivada por estas declarações.
Acho que o senhor primeiro-ministro deve estar muito receoso para fazer chegarLa historia me absolverá de tão longe um tal recado aos seus concidadãos. E devo perguntar-lhe: – Em que país está vivendo, senhor primeiro-ministro?
Como poderá afirmar, sem corar, que os portugueses têm compreendido a situação e realizado por isso sacrifícios muito grandes para vencer as dificuldades? Então não tem visto e ouvido como é recebido, vá onde for, desde que aí haja povo e não apenas os seus próprios “lacaios”? Não tem assistido à “compreensão” pela sua política que os portugueses têm demonstrado nas galerias do Parlamento? Como pode afirmar o que afirmou?
Como poderá afirmar que fomos obrigados a percorrer este caminho para termos o crescimento da economia e um futuro melhor para todos os portugueses?
O senhor primeiro-ministro tem uma noção, por mínima que seja, de que o caminho que tem imposto é o caminho do desemprego, da forçada emigração, da destruição das reformas e das pensões, o caminho conducente à drástica redução da educação, da saúde, da justiça, da cultura, da segurança e até da natalidade, por troca com a implantação do desespero, da miséria, da fome, da desertificação, do suicídio, da morte?
Quando o senhor primeiro-ministro fala em encontrar as vias para uma mais fácil circulação no seio da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, certamente estará a pensar em como, de futuro oleado a petróleo e sangue, o caminho acompanhado e orientado pela Guiné Equatorial será infinitamente mais escorregadio…

Não, senhor Pedro Manuel Mamede Passos Coelho, a História não o absolverá!
Sobretudo se for justo e isento o julgamento, testemunhado pelos portugueses que agora falsamente invoca em seu favor.

António Martinó de Azevedo Coutinho

 

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