– Bom dia, senhores telespectadores! Sejam muito bem-vindos a mais um programa!
A quem tenha menos de uns trinta ou quarenta anos, talvez estas palavras nada
digam. Aos mais velhos, logo surgirão na lembrança o rosto e a simpatia, quase familiares, do eng. Sousa Veloso, um apresentador de televisão que nos acompanhou durante umas boas três décadas, entre 1960 e 1990, aos domingos, tornando nossos os problemas e os sonhos da agricultura, mesmo que fôssemos gente da cidade e nada tivéssemos a ver com os campos…
José Carlos Souto de Sousa Veloso, nascido em 1926, licenciou-se pelo Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa. Tinha então 28 anos e começou a trabalhar, como engenheiro agrónomo, para o Ministério da Agricultura.
Eram então hábito, por quase toda a Europa, programas televisivos cujo tema
central era a agricultura, pelo que também a RTP decidiu tratar essa temática, que começou a ser apresentada por Fialho Gouveia e Henrique Mendes.
Sousa Veloso foi então escolhido pelo seu Ministério para aí colaborar em pequenas reportagens e outras rubricas alusivas. Depressa deram nas vistas o seu entusiasmo e o seu inegável talento para a comunicação. Por isso, a RTP decidiu entregar-lhe a responsabilidade do programa.
Nasceu assim a TV Rural que começou a ser emitida a 6 de Dezembro de 1960. A televisão interessou de tal maneira o eng. Sousa Veloso, que passou a dedicar-se a ela em exclusivo, chegado a ser produtor, editor e realizador – para além de apresentador – do programa. O seu trabalho e mérito foram reconhecidos em 1963 com o Prémio Imprensa. Depois de 1.500 horas de emissão o programa deixou de ser apresentado em 15 de Setembro de 1990.
Todos os domingos, como se fosse a missa ou um encontro de futebol, a TV Rural invadia as casas portuguesas, estivessem estas no campo, na praia, na montanha ou na cidade. Trazia-nos os avanços tecnológicos que o sector agrário conhecia dentro e fora do país. Dava conta dos movimentos associativos dos agricultores, das últimas medidas governamentais, marcava presença nos certames, descortinava um ou outro segredo no cultivo desta ou daquela cultura, e não descurava o interesse de divulgar deliciosas facetas da gastronomia regional e do folclore. Tanto fazia reportagem num olival como numa casa de granito perdida na Serra da Estrela, numa panóplia que procurava ter em conta a diversidade de públicos que assistiam ao programa e ao mesmo tempo falar para toda as pessoas: do escritório, da fábrica, da escola ou da enxada, do tractor, da ceifeira debulhadora ou da investigação técnica e científica, da economia, da sociologia ou da defesa do ambiente. 
Sousa Veloso, procurava falar para toda a gente e ouvir gente com iniciativa e com conhecimento, dedicada com entusiasmo, buscando meios que pudessem alicerçar o real e crescente progresso de toda a humanidade. Ele foi, a seu modo, um visionário, que acreditava na sua missão.
Conhecido pela sua bonomia, sempre de sorriso rasgado na face, o engenheiro agrónomo tornou-se um dos rostos mais conhecidos dos portugueses. Se tivesse decidido ingressar na carreira política teria sucesso…
Doente há vários anos, Sousa Veloso estava internado no Hospital do Mar. Faleceu hoje. Deixa saudades…
– Senhores telespectadores, despeço-me com amizade, até ao próximo programa!
largodoscorreios 
Sou filho de agricultores. Daqueles simples, que trabalhavam a terra nos seus minifúndios, apenas para sua subsistência, numa aldeia da Beira Alta. O TV Rural fazia parte das manhãs luminosas de domingo, lá em casa.
Algumas imagens e o “Despeço-me com amizade” do Eng. Sousa Veloso fazem parte de agradáveis memórias da minha infância e da minha adolescência nos anos 80.
Despedimo-nos agora também. Com amizade.