Ponte de Sor ontem e hoje

Conheci muito bem Ponte de Sor pelos meados dos anos 50 do passado século, quando exerci como professor na vizinha vila de Galveias. Era então uma povoação instalada numa zona plana junto ao rio Sor, com uma vida equilibrada, entre a linha férrea e uma estrada com apreciável movimento. A agricultura e alguma indústria eram os motores económicos da comunidade, onde as feiras anuais tinham um lugar significativo. A cortiça detinha já então uma considerável importância, antecipando um futuro que se confirmou.

As origens históricas de Ponte de Sor remetem para o tempo do domínio romano na região, tendo sido D. Dinis decisivo na retoma de uma certa dimensão que entretanto perdera. Foi D. Manuel I, em 1514, que lhe concedeu um primeiro foral.

Ao anexar Galveias e Montargil, já no século XIX, Ponte de Sor começou a expandir-se, num ritmo de progresso que a Linha do Leste e a indústria corticeira confirmariam. A sua privilegiada situação rodoviária, entre Lisboa, as Beiras e o Alentejo, acrescentou-lhe uma rara mais-valia.

Em 8 de Julho de 1985, num surto de promoções que varreu o país de Norte a Sul, Ponte de Sor foi elevada a cidade, a terceira no distrito de Portalegre. Para além de importante polo corticeiro, com implantação mundial, a nova cidade foi sendo valorizada por unidades de transformação de produtos agrícolas e de construção civil. A proximidade da barragem de Montargil contribuiu para o seu crescimento. Mas, amplamente compensando o declínio regional do caminho de ferro, aquilo que decisivamente ajudou Ponte de Sor a garantir um futuro promissor foi a aeronáutica. Com uma pista de aviação, a instalação de poderosas empresas do ramo aeronáutico e até uma escola de pilotos, a cidade atingiu uma insuspeita dimensão.

Os quase noventa anos que nos separam da edição de um interessante estudo sobre Ponte de Sor, opúsculo publicado como separata do Álbum Alentejano, mostram com total evidência o percurso da antiga vila até à cidade próspera em que se transformou.

O Álbum Alentejano consistiu numa publicação em três volumes que pretendeu caracterizar, por concelhos, as regiões de Beja, Évora e Portalegre, difundindo “tudo quanto o Alentejo encerra em força de trabalho agrícola, industrial e mineiro“. Os artigos eram da autoria de diversos autores, dirigidos por Pedro Muralha, e abarcaram temas variados, da economia, agricultura e indústria, à história, administração autárquica, tradições, cultura e literatura. As páginas relativas ao concelho de Ponte de Sor, também publicadas sob a forma de separata, incluem artigos de Primo Pedro da Conceição (texto base da obra Cinzas do Passado, editada décadas mais tarde) e de Garibaldino de Andrade, entre outros.

Foi este, um notável pedagogo, que assinou o texto Ponte de Sor – sua importância comercial e industrial, com dados que remetem para 1930. Reler hoje essas inspiradas linhas representa um desafio para o inevitável confronto com a actual realidade comunitária.

Aliás, esta evocação pessoal dos saudosos tempos em que vivi entre Galveias, Ponte de Sor e Portalegre, ainda antes do serviço militar obrigatório, tal evocação nasceu precisamente de recentes alusões que a comunicação social trouxe ao meu conhecimento, em Fevereiro e Março, através dos jornais de referência que leio regularmente, em duas das suas habituais separatas.

Sem outros dispensáveis comentários, aqui ficam os registos de Ponte de Sor, jovem cidade do Norte Alentejano que, numa região desfavorecida, cresce e  impõe-se.

1 thoughts on “Ponte de Sor ontem e hoje

  1. Magnifico este trabalho sobre Ponte de Sor.
    Posso testemunhar que o retrato descrito é absolutamente fiel.
    Conheci muito bem Ponte de Sor nessa época, porque ali trabalhei nos Caminhos de Ferro entre 1967 e 1970.
    Ali deixei muitos amigos.
    O ponto de encontro diário após almoço era um café no local mais central da vila.
    Ali se encontravam os grandes agricultores da região e numa mesa os burocratas da vila: o presidente da câmara Dr. Matos, o gerente do único banco (Totta) Sr. Barroso, o guarda rios Sr Caldeirinha e os 2 Engºs civis do C.F. (eu e outro colega).
    A uns 500 metros da estação, para o lado de Abrantes, num local chamado Salgueirinha existia um departamento técnico onde trabalhávamos, que superintendia em todos os trabalhos da via e das obras nas linha do Leste desde Abrantes até à fronteira de Badajoz e no Ramal de Cáceres desde Torre das vargens até à fronteira de Valência de Alcantara.
    A estação e a Salgueirinha, distavam 1,5 km do centro da vila, sendo que num espaço de 1 km não havia qualquer construção.
    J.E.Chagas

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