Salvemos a Robinson – parte mil e uma…

O Diário da República de 16 de Março de 2018 publicou a recomendação ao Governo, unanimemente aprovada pela Assembleia da República em 28 de Novembro de 2017, no sentido da preservação e valorização do património industrial da Fábrica Robinson, em sequência da Petição “Salvem a Robinson”, para a qual tanto lutaram o vereador Luís Pargana e Os Verdes.

Relembro, de modo quase “arqueológico”, o seu teor:

A Assembleia da República resolve (…) recomendar ao Governo que:

1 — Promova o diagnóstico da situação do património industrial e do edificado da Fábrica Robinson, parte do conjunto classificado de interesse público que integra a Igreja e o antigo Convento de São Francisco, calendarizando uma intervenção urgente para garantir a sua salvaguarda e determinando as medidas provisórias ou técnicas de protecção indispensáveis e adequadas para o efeito, nomeadamente as que revelam maior urgência.

2 — Garanta as obras necessárias e fulcrais para assegurar a protecção e segurança imediatas do edificado e do espólio da Fábrica Robinson, em especial das chaminés, do telhado e das máquinas, face a intempéries, actos de vandalismo ou outras situações susceptíveis de causar perdas e danos irreparáveis a este valioso património arqueológico, industrial e corticeiro.

3 — Mobilize recursos, nomeadamente financeiros, com vista aos trabalhos de protecção, conservação e valorização dos bens que integram o referido património, no âmbito da Lei de Bases do Património Cultural, em harmonia com as demais normas estabelecidas sobre a matéria e sob a orientação dos serviços competentes.

4 — Adopte medidas de requalificação e revitalização do património da chamada «Fábrica da Rolha», nomeadamente dando novas funcionalidades aos seus sete hectares e tornando-os um recurso de desenvolvimento local, regional e nacional.

5 — Desenvolva, em colaboração com a Fundação Robinson,  a Câmara Municipal de Portalegre, instituições científicas, educativas, associativas, sindicais, empresariais e outras entidades, a nível local e nacional, o conhecimento, estudo, protecção, valorização e divulgação do património material e imaterial que a fábrica da Sociedade Corticeira Robinson Bros, S. A. incorpora e representa, ímpar na região e em Portugal, dignificando a sua dimensão de espaço museográfico”.

Ingenuamente, talvez concedendo uma última oportunidade aos nossos políticos e à sua política, acreditando ainda apesar das desilusões, recordei tudo isto num post deste blog, em 18 de Março de 2018, a que chamei Salvemos a Robinson.

Partilhei então o natural júbilo que legitimamente sentiam os autores da iniciativa e felicitei-os, uma vez mais, pela sua lúcida, corajosa e persistente luta em defesa de um património, único, de Portalegre e do país.

Tal iniciativa merecera a rara e unânime aceitação dos parlamentares. A recomendação destes ao Governo foi muito clara e encerrou uma evidente urgência, pelo que se esperava uma resposta cabal e atempada, porque os riscos de perda desse inestimável património permaneciam.

Tudo foi em vão. O Parlamento revelou-se impotente e o Governo ineficaz. Tudo se resumiu a uma glamorosa declaração de intenções. Das tais de que está o inferno cheio.

Acontece por isso uma natural desconfiança perante a actual decisão local, ratificada por uma maioria matematicamente minoritária, passe o aparente absurdo. O contexto é outro, bastante distinto do anterior e as promessas ou garantias idem.

Daqui a imperiosa necessidade de uma atenta, permanente e exigente vigilância da parte dos portalegrenses que ainda acreditam em tempos melhores, isto é, num futuro digno para a sua e minha terra.

A Fábrica da Rolha é uma herança de honra para Portalegre. As memórias ali encerradas são incontornáveis, como sinais de uma comunidade, então ainda viva e pujante, a que muitos de nós estamos ligados. Uma ilustre família inglesa -os Robinson- e os seus colaboradores merecem da nossa parte uma resposta condigna.

Por mim, contei ali com o bisavô Silvestre Ceia e com os tios-avós Francisco e Manuel, este também activamente ligado à fundação da Cooperativa Operária Portalegrense.

A novel iniciativa agora desencadeada terá de ser cumprida, e com urgência, para que Portalegre seja dotada de uma instituição que recorde e dignifique para sempre aquilo que a nossa Fábrica da Rolha representou para muitas gerações de portalegrenses e não só.

Salvemos a Robinson! – vale a pena repetir o grito de combate.

António Martinó de Azevedo Coutinho

Cenas da vida lusitana há 50 anos – oitenta e oito

Conclui-se hoje a reprodução do material relativo ao mês de Outubro de há cinquenta anos constante do Almanaque da Plateia de 1969.

São três os curtos dossiers alusivos. O primeiro respeita ao que no tempo eram considerados Os Múltiplos Caminhos do Western, aludindo a certos filmes hoje de culto, como Bandoleros, El Dorado, O Comboio apitou Três Vezes ou O Sargento Negro.

A seguir, abordando ligeiramente a obsessão do sexo no cinema, como era limitado timbre da censura da época, vem o artigo Beldades para andar aos Pontapés

A última página dedicada ao mês de Outubro é relativa a um grande compositor de temas do cinema, autor de bandas sonoras inolvidáveis: Maurice Jarre. Alguns dos filmes para os quais compôs temas musicais ficaram em antologias do género. Basta lembrar My Fair Lady, Paris já está a Arder, Doutor Jivago ou Lawrence da Arábia para provar o génio do compositor, que ainda hoje podemos apreciar.

E até Novembro.

 

mais um episódio da novela lagóia Robinson

Portalegre: Abstenção do PS viabiliza proposta da CLIP de compra,
por parte da Câmara, de uma fracção do conjunto edificado da Robinson

A abstenção da bancada do PS permitiu aos eleitos da CLIP na Assembleia Municipal de Portalegre aprovarem sozinhos a compra, por parte da Câmara, de uma fracção do conjunto edificado da antiga fábrica Robinson, pelo montante de 1,283 milhões de euros.

A proposta da autoria da CLIP, aprovada na última noite em reunião extraordinária da Assembleia Municipal, prevê a concessão a privados da fracção adquirida pelo município para a edificação de uma unidade hoteleira ao abrigo do programa REVIVE.

Em declarações à Rádio Portalegre o líder da bancada socialista, Miguel Monteiro, referiu que permitiram viabilizar este negócio pelo facto de o mesmo ir ao encontro de “uma exigência que o PS fez, no sentido de ser aberta uma rubrica em sede de orçamento municipal com a possibilidade da câmara poder começar a recuperar algum património do espaço Robinson”.

Por outro lado, Miguel Monteiro é da opinião que a Fundação Robinson, fundada em 2005, “não tem garantido o desígnio para o qual foi criada”, nomeadamente a preservação e reabilitação do património da antiga corticeira.

O socialista sublinhou ainda que o PS “não tem qualquer tipo de dogma relativamente ao investimento privado”, salientando que o programa REVIVE “é uma bandeira do PS”.

A CLIP também saúda a viabilização do negócio, argumentando tratar-se de “uma oportunidade única para requalificar aquele espaço devolvendo-o à população”.

Em comunicado enviado à Rádio Portalegre a CLIP afirma que com este negócio “será possível potenciar o programa REVIVE, com o apoio do Turismo de Portugal e da Direcção Geral do Património Cultural, através de uma concessão temporária, que garantirá que o património seja sempre do município de Portalegre”.

Os independentes acrescentam que querem ver nascer naquele espaço “um grande complexo turístico polivalente, com uma unidade hoteleira, zonas de lazer, restaurantes e salas de congressos”, e asseveram que vão “garantir uma zona museológica onde se preserva a história da fábrica da rolha, as suas chaminés, as zonas de produção e toda a sua maquinaria e espólio imaterial”.

A CDU não deu o seu aval a este negócio por o considerar de “muito duvidosa legalidade”, acrescentando que os seus objectivos também “não estão bem definidos”.

Segundo o vereador da CDU, Luís Pargana, esta compra “servirá para pagar dívidas e penhoras da Fundação Robinson”.

Para o autarca “não faz sentido que se entregue a privados o bife do lombo daquilo que é a memória e a identidade de Portalegre e dos portalegrenses”.

A compra, por parte da Câmara de Portalegre, de uma fracção do conjunto edificado da antiga fábrica Robinson, foi aprovada com 10 votos da bancada do CLIP na Assembleia Municipal e a abstenção dos 10 eleitos do PS. As bancadas da CDU e do PSD, cada uma com quatro eleitos, votaram contra.

Gabriel Varela Nunes – RÁDIO PORTALEGRE

Mais um episódio acaba de acontecer na interminável lista de acidentes de percurso, quase todos negativos, no sentido de ser cumprida uma dívida de gratidão de Portalegre para com a sua memória. O longo e sinuoso historial da Fundação Robinson está associado a este episódio.

Fico indeciso, a meio termo entre o triunfalismo Clip e o negativismo CDU. Notando alguma incoerência entre as declarações e a votação do PS, também não posso sintonizar-me com esta posição. O PSD, como é costume, revelou-se alheio… A ambiguidade habitual parece ser, portanto, o essencial ponto da situação.

Afinal, cenas de um argumento que já vimos representado até ao cansaço…

Se tudo, tudo, vier a acontecer segundo o expressamente declarado pela autarquia, então esta será uma solução menos má, uma espécie de remedeio de sucessivos disparates até agora cometidos. Porém, há em tudo isto uma omissão que julgo grave: o eventual branqueamento das responsabilidades -certamente bastante desiguais- de todos os dirigentes da Fundação Robinson. Há que apurar, obrigatoriamente, o seu grau de responsabilidade em decisões que conduziram a esta calamitosa situação.

Enfim, isto não é ainda o fim de uma tristonha e arrastada crónica citadina.

Toda a comunidade portalegrense que ainda acredita num futuro possível para a Robinson tem de permanecer atenta aos próximos episódios.