
Arquivo da Categoria: Memórias
geopolítica da água
Imagem
a minha terra
Imagem
Crónicas – Hélder Pacheco – vinte e nove

PELA SEIVA, PELO PORTO
A partir de 1973, o Porto passou a dispor de uma instituição vocacionada para a afirmação e a renovação de uma das suas mais enraizadas actividades artísticas: o teatro. O teatro produzido por um conjunto de actores que, fundando a Seiva Trupe, protagonizaram, ao longo do último meio século, o confronto com um dos maiores desafios que se coloca aos criadores e às próprias políticas culturais. Esse desafio, por vezes, ignorado pelos profetas da pós-modernidade, é o de conciliar a tradição com a inovação. Promovendo o cruzamento do melhor da nossa herança colectiva, com as transformações de uma sociedade em mutação.
Este constitui o legado da identidade da Seiva Trupe, na sua contribuição para o progresso e a qualificação da cidade. Através de uma presença que divulgou Brecht a par de Camilo, Júlio Dinis a par de Genet, Gil Vicente a par de Sófocles. O melhor do teatro de revista, com a erudição do teatro clássico. E, como portuense, não posso deixar de assinalar factos inesquecíveis, para sempre gravados na memória do imaginário tripeiro. Refiro-me à notável sequência de espectáculos (que fizeram escola) iniciada com o magistral “Um Cálice de Porto”, a que se seguiram “Uma Família do Porto”, “Os Amorosos da Foz” e “Porto d’Honra”.
A grandeza da história da Seiva Trupe, não pode ser menosprezada e ignorada. Meu pai, honrado republicano, dizia, a propósito das políticas, que: «Com coisas sérias não se brinca.» Adaptando aquela frase à situação criada pelo Terreiro do Paço à Seiva Trupe, direi que «Com uma instituição como esta, não podem, nem deviam brincar.»
Helder Pacheco
in Jornal de Notícias