Saborzinho achocolatado – onze

título geral

XI – O ROMANCE-NOVELA DA SIC

No dia 8 de Outubro de 1923, o ABC-zinho n.º 55 publicou uma longa carta do Tio Pirilau a propósito do grande concurso da SIC.

Mais uma vez, é interessantíssimo o teor desta missiva da autoria -como se sabe- de Cottinelli Telmo. Louve-se a aplicação revelada porque, ainda que tenha contado com dedicados colaboradores, no curto espaço de duas semanas e pouco, foi possível ler e classificar 264 romances!

O Tio Pirilau começa por comentar o facto de o número de concorrentes não ter atingido os 5 ou 6 milhares, cifra habitual em relação às charadas da secção Nesta Altura Toca e Pensar. E explica: é diferente “matar uma charada do tipo branco é galinha o põe” do trabalho de escrever um romance!

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Depois confessa, com a tal desconcertante naturalidade coloquial sempre usada, que “dois terços dos textos foram imediatamente postos de parte, ao primeiro golpe de vista; mas mesmo assim! Ah! meus amigos! Não desejamos repetir a experiência!” Após um louvor ao competente júri, deu conta do “irrevogável” (onde é que eu ouvi isto!?) resultado, seguido de alguns comentários.

O primeiro lugar, premiado com cem escudos, foi atribuído a Primos-entre-Si, pseudónimo de um (ou mais) concorrente obviamente adulto, dado o nível do discurso e do enredo.

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E o Tio Pirilau não deixa os leitores não premiados sem uma palavra. Que se lembrem, mesmo os que pensavam ter feito um impecável trabalho, que, embora muitos dos romances tivessem boas gramática e urdidura, tinham sido excluídos por “falta de relação do texto com as gravuras, falta de ambiente em relação às mesmas, episódios desligados quando a história devia ser uma só, falta de atenção para o objectivo principal: o reclame à S.I.C., etc., etc., etc.!

O comentário final, de tonalidade pedagógica, é outra nota de lógico realismo: “Como os leitores vão ver, Primos-entre-Si escrevem com gramática, não fazem estilo, evitam os lugares comuns e as palavras difíceis, cuidaram do reclame (do qual, de resto, a S.I.C. já não precisa!), não escreveram a mais nem a menos, e, sobretudo, urdiram de tal forma o seu romance, que cada capítulo é uma surpresa, um mistério que só no fim se desvenda e tem uma explicação tão fácil, que o melhor elogio que lhe pode fazer o júri é chamar-lhes: Maurice-Leblanc-zinhos!… São meninos? Não são! Deixá-lo! Este concurso foi até, nós o dissemos, um pretexto para interessar muitos dos Papás que já olham para o ZINHO mais do que por cima do ombro!

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Na página 16 (contracapa) desse número publicou-se o primeiro capítulo do romance (ou novela?) vencedor Os Bombons Desaparecidos, sendo os restantes divulgados nas semanas seguintes.

E, acompanhando o derradeiro capítulo, patente no número 62 do ABC-zinho, em 26 de Novembro de 1923, foi logo anunciado, a seguir, outro GRANDE CONCURSO DA SIC!

É o que saberemos a seguir…

António Martinó de Azevedo Coutinho

 

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