O estranho caso do submarino voador – 09

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carte8et9Após o regresso a casa, no breve percurso aéreo que o trouxe da Escócia ao continente europeu, Tintin vai partir para nova viagem, mantendo-se na Europa, mas desta vez com destino mais longínquo, para as orientais regiões balcânicas. Usará novamente o avião, meio de transporte a que parece ter-se habituado? Ou irá de comboio?

Estamos agora em 1938, à beira da II Guerra Mundial, convindo não perder taltintinactuel08_22012004 contexto temporal de vista. A 4 de Agosto desse ano, quando começa a nova aventura, Tintin na Sildávia (assim se chamou originalmente O Ceptro de Ottokar), apenas cinco meses tinham decorrido sobre a anexação (Anschluss) da Áustria pela Alemanha de Hitler. Durante a publicação da história, em Março de 1939, foi a vez da Checoslováquia ser ocupada, e quanto terminou o relato, em Agosto deste ano, estávamos nas vésperas da II Guerra Mundial, iniciada logo no Setembro imediato com a invasão da Polónia.

Regressemos ao novo desafio colocado a Tintin, com um agitado episódio inicial de bases históricas que o leva, por curiosidade investigativa, até à Sildávia. E -aqui fica a resposta à questão inicial- parte no avião da carreira regular para a capital, Klow (ligação destacada no folheto turístico sobre o país), com escalas em Francfort e em Praga, umas páginas adiante. O avião da Sabena, companhia aérea belga, é um modelo já conhecido de Tintin a quando da anterior viagem, um trimotor a hélice Savoia-Marchetti.

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Quando muda para um pequeno avião privado, monomotor de modelo indeterminado, será alvo de uma tentativa de assassinato ao ser deliberadamente lançado para o vazio, amarrado à cadeira e falhando-lhe o auxílio, em desespero, do paraquedas.

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Pelas normais leis da física quanto à queda livre dos corpos no espaço, em trajectória rectilínea, vertical e uniformemente acelerada por efeito da gravidade, 09 - 05Tintin deveria ter ali acabado os seus dias e interrompido definitivamente as suas aventuras pelo mundo. Mas Hergé tomou a precaução de colocar no ponto de impacto uma carreta rural carregada de palha com mágicos efeitos amortecedores. E o nosso herói pode continuar normalmente a sua saga.

Após mil e um incidentes, em que volta à pista inicial, Tintin conhecerá o germanófilo coronel Boris. E a movimentada aventura continuará até ao reencontro com os aviões. Finalmente, após longo intervalo, eis o nosso herói outra vez no cockpit, ao comando de uma aeronave. Conforme a versão que conta o episódio, trata-se de dois famosos modelos de caças germânicos, primeiro o Heinkel 112, depois o Messerschmitt BF-109. Acontece que, após perseguição, será abatido. Mas, nesta oportunidade, consegue usar convenientemente o paraquedas.

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Terminada com êxito a missão balcânica do jornalista, vai acontecer a parte social do reconhecimento público e oficial pela sua decisiva intervenção. E a verdade é que a sessão solene até mete convidados especiais, muitos deles relacionados com a “actividade profissional” de Tintin, gente das suas relações próximas…

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E, no regresso ao lar, ele vai usar outra vez a carreira aérea. A única perturbação da viagem final foi fornecida pelos desastrados Dupond/T. Enfim, o costume.

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O Ceptro de Ottokar, neste domínio das relações de Tintin com as aeronaves, revela-se portanto muito significativo. Como passageiro regular, como piloto, como alvo de acidentados voos por duas vezes, ele regressa aqui a um íntimo contacto com o avião. O nível da importância social deste é adequadamente reconhecido pelo jovem jornalista. O futuro próximo confirmará, ou não, este entendimento?

É isso que saberemos no “capítulo” seguinte.

 António Martinó de Azevedo Coutinho

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