Há cento e cinquenta anos nasceu o jornal portuense O Primeiro de Janeiro

O Primeiro de Janeiro foi um jornal diário que se publicou na cidade do Porto pela primeira vez em 1 de Dezembro de 1868, precisamente há 150 anos, hoje mesmo cumpridos.

Infelizmente, como tantos, tantos, outros títulos é hoje uma saudade…

A publicação deve o seu título às manifestações da Janeirinha, movimento que em 1 de Janeiro de 1868 iniciou o processo que levou ao fim da Regeneração. No cabeçalho do jornal indicava tratar-se do órgão do Centro Eleitoral Portuense.

António Augusto Leal era proprietário de uma tipografia, tendo decidido criar um novo jornal na cidade do Porto. O jornal não teve grande sucesso na altura, apenas sobrevivendo com o auxílio de um comerciante regressado do Brasil, Gaspar Baltar, o qual, em 1869 se tornou administrador daquela publicação, ficando o seu filho homónimo com a direcção editorial. Com uma visão empresarial mais moderna e a preocupação de realizar bom jornalismo, pai e filho não apenas salvaram o jornal, como o mesmo se tornou numa referência no sector.

Em 1870 dá-se o grande salto, passando a dispor de boas instalações na rua de Santa Catarina. Com o deflagrar da Guerra Franco-Prussiana em 1870 O Primeiro de Janeiro consegue o seu primeiro grande sucesso, ao aceitar um proposta de receber os telegramas de correspondentes alemães. É que a concorrência, de tendência afrancesada, recusou tal ideia e apenas transmitia informações, muito controladas, por parte dos franceses. Assim, quando os alemães entraram em Paris foi uma surpresa para os leitores dos outros jornais, enquanto os de O Primeiro de Janeiro acompanhavam muito mais realisticamente o desenrolar da guerra. Com esse prestígio a tiragem passou de 3 mil exemplares em 1870 para 15 mil no final da mesma década.

Contou entre os seus colaboradores dos mais prestigiados intelectuais da época: Camilo Castelo Branco, Alberto Pimentel, Guilherme de Azevedo, Guerra Junqueiro, Latino Coelho, Ramalho Ortigão, Antero de Quental, Oliveira Martins, Eça de Queirós, Gomes Leal ou António Nobre.

Com a morte de Gaspar Baltar (pai) em 1899, o seu filho, juntamente com Joaquim França de Oliveira Pacheco dão continuidade ao jornal, até que em 1919, fruto de dificuldades financeiras, o jornal é vendido a um grupo de investidores de Lisboa, passando a ter jornalista Jorge de Abreu vindo de O Século como novo director.

Em 1923 é novamente adquirido por um conjunto de empresários, liderados por Manuel Pinto de Azevedo e Adriano Pimenta. Manuel Pinto de Azevedo Júnior assume a direcção do jornal em 1936, dirigindo-o nos 40 anos seguintes, tornando-o numa referência nacional. A aposta que fez no noticiário internacional (único jornal a abrir com tal secção), bem como o pendor fortemente favorável aos Aliados durante a II Guerra Mundial granjearam-lhe grande prestígio e popularidade.

Com a morte de Manuel Pinto de Azevedo Júnior em 1978 o jornal entra numa espiral de instabilidade a nível de direcção, perda de leitores e publicidade, passando em 1991 a jornal de cariz regional sob a direcção de Nassalete Miranda.

Em 30 de Julho de 2008, os cerca de 30 jornalistas da redacção do jornal, foram informados de que o título encerraria em Agosto para uma reformulação gráfica, voltando em Setembro numa nova empresa.

Em editorial, a directora Nassalete Miranda anunciou a interrupção da sua publicação pelo período de uma semana.

No dia 3 de Agosto de 2008 surge novamente nas bancas com um novo director, Rui Alas Pereira mas durou pouco tempo, tendo fechado definitivamente pouco depois.

Entre os seus muitos e famosos suplementos, destaca-se o caderno de literatura “Das Artes Das Letras“, que contou com a colaboração de José Régio, aí assinando dezenas de textos hoje antológicos.

O jornal O Primeiro de Janeiro também dedicou muita atenção à banda desenhada, tendo divulgado muitos e bons autores do género em tiras e folhetins.

Na minha infância foi pelo jornal O Primeiro de Janeiro, entre outros que o meu avô assinava, que segui no quotidiano as incidências da II Guerra Mundial.

Há cento e cinquenta anos nasceu e há uma década morreu…

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