O Café Alentejano, em Portalegre cidade…

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Acho notável a iniciativa de um homem sensível que foi capaz de perceber a importância dos cafés que resistem ao tempo. Estou interessado em conhecer a obra pelo ligeiro e oportuno sumário que o Público ontem divulgou.

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Quando a Rota dos Cafés Históricos reúne apenas 23 exemplares de Norte a Sul do país, esse raro recenseamento dá conta de como tudo muda e depressa. É verdade. O autor cita, e bem, alguns homens de letras que fizeram de cafés lugares de memória. E vem lá Régio que, em Portalegre, está associado a três cafés, Central, Facha e Alentejano. Coloquei-os pela ordem decrescente da sua dimensão regiana, pela importância que assumiram na vida social do autor da Toada. Pois tanto o Central como o Facha, sede de tertúlias, diferentes e sucessivas, onde Régio de algum modo pontificou, alteraram radicalmente os seus interiores, hoje irreconhecíveis.

É precisamente o Alentejano, aquele que Régio mais raramente frequentou, de onde há notícia mais exacta pelo relato escrito de David Mourão-Ferreira sobre os belos bifes que ali saboreavam, é precisamente o Alentejano que se mantém quase idêntico a esses tempos distantes mais de meio século. É obra!

Em Portalegre o fenómeno é louvável. O Alentejano não é apenas um café mas um museu. Um museu vivo, que recupera memórias de gentes e de acontecimentos.

O Café Alentejano foi concebido pelo pintor e decorador Benvindo Ceia, o maior15-al-10-alentejano-0 artista de Portalegre, embora tenha sido depois ligeiramente alterado o projecto original. Ali passaram gerações uma boa parte dos seus tempos livres, tendo sucessivos gerentes procurado manter-lhe o atractivo comercial. A sua frequência foi diversa e os extractos sociais que ali se sucederam sempre respeitaram uma espécie de hierarquia económica que situava doutores e lavradores à esquerda de quem entra, com o operariado e os funcionários à direita, de algum modo invertendo a respectiva conotação política terminológica… Bem vistas as coisas, aquela sala era e é um café e não um parlamento.

Rebuscando os arquivos nem sequer foi difícil encontrar uma mais completa e interessante alusão ao Café Alentejano. Encontrei-a em A Cidade, uma revista que deixou saudades. Aqui a recordo, com um aceno de simpatia a Vítor Marques que não se limitou a gerir um café coimbrão. Ele fez muito mais do que isso: percebeu a dimensão daquilo que resiste ao tempo e às modas.

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