HOBBIES – zero

Conheci Carlos Gonçalves quando encontrei o Clube Português de Banda Desenhada. Aliás, era ele -conjuntamente com Geraldes Lino e António Dias de Deus- que para mim significou durante muito tempo aquilo que os nossos quadradinhos tinham de melhor. Falo dos inícios da década de 80 do passado século e ainda hoje assim penso. Geraldes Lino e António Dias de Deus já nos deixaram, pelo que lhes dedico, agora, recordação e homenagem de gratas memórias.

A oportunidade que me concederam de uma activa participação pessoal nos primeiros e saudosos festivais de banda desenhada, entre 1982 e 1985 e ainda na extinta F.I.L., significou a possibilidade de aprofundar a minha experiência de tão interessantes contactos, muitos dos quais perduraram pela vida fora.

Carlos Gonçalves não é uma estreia em referências neste blog. Quando aqui tratei de construções de armar, em Setembro de 2012, ainda em Portalegre, foi ele que me proporcionou boa parte do interessante e quase inédito material que aí usei. A fabulosa colecção de “coisas aos quadradinhos” (e não apenas!) que ele possui é impressionante. Um dia proporcionou-me uma visita à sua casa de Campo de Ourique, em Lisboa, onde tem uma parcela dessas colecções. Eu diria que ele vive numa biblioteca, rodeado de revistas, jornais de BD e outras coisas por todos os lados… Mas, atenção, aquilo não é um depósito, pois ele conhece e estima cada peça, por mais ínfima.

Carlos Alberto Davis Mártires Gonçalves nasceu em Lisboa, e 10 de Setembro de 1941. Bem cedo começou a trabalhar, passando por diversas actividades mas frequentando sempre o ensino nocturno que nunca descurou.

Logo desde novo se apaixonou pelos quadradinhos, iniciando as suas colecções com a ajuda da mãe. O tempo foi passando e Carlos Gonçalves foi incorporado no Exército, servindo em Angola, na guerra colonial. Após o regresso, conseguiu fixar-se numa grande empresa do ramo automóvel, onde fez uma ascensional carreira que o levou, pelos anos 70, ao topo profissional, como Director Comercial. Reformou-se nos finais de 2005, sempre renovando a sua permanente paixão de tempos livres pela BD.

Mas não se limitou a ser um mero coleccionador, indo muito mais para além de tal gosto, que seria já meritório.

Em 1976, dum encontro com outro amante dos quadradinhos, surgiu a iniciativa de constituir uma associação onde todos os interessados pelo tema se pudessem encontrar. Assim nasceu o Clube Português de Banda Desenhada, de que Carlos Gonçalves possui o cartão de associado n.º 1.

Daí surgiram muitas iniciativas -um Boletim regular, brochuras avulso, exposições temáticas, encontros, colóquios, debates, um Festival anual, diversas participações noutras publicações como revistas e jornais, etc.- onde Carlos Gonçalves assumiu sempre uma activa posição.

Aprofundando progressivamente o seu conhecimento da banda desenhada, assegurou durante vários anos (1981 a 1997), uma ou mais páginas semanais no Correio da Manhã, artigos no Diário Popular e um notável estudo sobre a História da Banda Desenhada Portuguesa em sucessivos números da revista mensal História (entre 1986 e 1988). O Jornal da BD contou com um suplemento da autoria de Carlos Gonçalves, que continuou sempre a assegurar, só ou bem acompanhado, a regular publicação do Boletim do CPBD e o enriquecimento da sua colecção particular.

Quando dirigi o Centro de Estudos de Banda Desenhada, na Casa de Cultura da Juventude de Portalegre, sempre recebi da parte de Carlos Gonçalves uma atenta e preciosa colaboração. Era também por essa época muito frequente o meu encontro pessoal com ele, em Lisboa.

Foi distinguido com o Troféu de Honra do Festival de Banda Desenhada da Amadora, em 2013, por uma justíssima decisão da Câmara Municipal daquela cidade.

Carlos Gonçalves, secundado por alguns raros mas dedicados companheiros de jornada, assegurou sempre ao longo de décadas a difícil sobrevivência do CPBD, até à sua recente e plena “ressurreição”, qual Fénix aos quadradinhos.

Estamos hoje juntos, com mais alguns qualificados amigos, na direcção do nosso Clube, onde se sinto particularmente honrado.

Ele não é, de modo algum, um desconhecido dos leitores mais fiéis do Largo dos Correios. Para além de outras referências avulsas, Carlos Gonçalves subscreveu aqui, entre Junho de 2017 e Julho de 2019, uma apreciada série sobre BD que contou com cerca de 90 entradas semanais. Pois a excelente notícia é que ele vai voltar.

A partir da próxima quarta-feira, todas as semanas e espero que por largos meses, aqui será partilhada a série HOBBIES, composta por memórias de Carlos Gonçalves acerca de coleccionismo em geral, uma paixão que sempre o motivou. Não serão apenas quadradinhos, deste vez, mas os mais diversos temas como, por exemplo, Filatelia, Numismática, Rótulos de Hotel, Filumenismo (Fósforos), Os Cromos de Futebol, Casa de Bonecas, Os Cromos da Bola (2ª Parte), Literatura de Cordel, As Bonecas, Aeromodelismo, A Vespa, Brinquedos Antigos, Soldadinhos de Chumbo, O Ferromodelismo, Modelismo Naval, Hobbies Invulgares (facas, cabeças de animais embalsamados, armas, capacetes, rádios, charutos, bengalas, garrafas, etc.), Automodelismo, Harley – Davidson, Hobbies Diversos (balança, talheres, máquinas de calcular, etc.), Carros Antigos, Velhos Hobbies, Novos Hobbies; Os Livros, Tintin, A Música, Campismo, A Banda Desenhada, Os Bonecos de PVC, A Banda Desenhada (2ª Parte), Colecionar Insetos, Banda Desenhada (Continuação), A Cartofilia (Postais), A Banda Desenhada (Conclusão), etc… Como se pode avaliar, só pela descrição, isto promete!

Trata-se de artigos publicados por ele há muitos anos em revistas privadas, portanto muito pouco conhecidos ou divulgados, pelo que ganham agora o estatuto de inéditos.

Tenho a certeza, antecipada, de que novamente a generosa colaboração de Carlos Gonçalves constituirá uma mais-valia do nosso Largo dos Correios, o que desde já fraternalmente lhe agradeço.

E aqui ficou, logo a abrir e como “aperitivo”, o cabeçalho…

Deixe um comentário