Caminhos de Santiago – um – Caminha-Viladesuso

Dia 1

Ao dia 28 de Abril demos início à nossa aventura. O dia previa ser longo e incluir uma grande proporção em transportes rumo ao destino de partida da nossa peregrinação, a bonita e tradicional Vila de Caminha. A jornada começou pelas 8h no terminal rodoviário de Sete Rios apanhando um autocarro rumo a Viana do Castelo, esta viagem demorou quatro horas e meia e serviu para planearmos o nosso dia e descansarmos antes do início da peregrinação.

Pelas 12:30 chegados a Viana do Castelo, a opção mais prática e que permitia definir o plano traçado seria apanhar um Uber para Caminha. Este segundo troço da viagem revelar-se-ia um dos mais satisfatórios, o nosso motorista Jorge revelou-se uma agradável companhia que nos presenteou com muitas dicas para o caminho que já fez diversas vezes e partilhou ainda a sua fascinantes história de vida como Chefe de Sala dos melhores restaurantes de Lisboa. Chegados finalmente a Caminha restou apenas 1h antes de apanharmos o barco que nos levaria à Galiza. Aproveitamos esse tempo para almoçar e fazer uma oração na bonita Igreja da Misericórdia onde pedimos pelo nosso caminho e intenções.

Pelas 14h30 começámos então a última viagem motorizada dos próximos 6 dias, uma pequena viagem de 5 minutos até Camposancos. Ao chegarmos ao pequeno Porto de Caminha deparamo-nos primeiramente com um ferry açoriano junto à costa, pensamos que o nosso destino seria trágico devido também às difíceis condições de navegação com muito vento. Rapidamente o nosso coração sossegou com a aparição do nosso competente skipper, um carismático e castiço militar da Marinha Portuguesa. A viagem foi ao som da história do transporte marítimo turístico e Caminha, que segundo o nosso “Comandante” está entregue à sua legítima e legal empresa e a um outro competidor apelidado de pirata pelas práticas fraudulentas e a falta de condições de segurança com que transporta os seus passageiros. Curiosamente o “pirata” era nada mais, nada menos que o dono do malfadado ferry “titanic”.

Atracados em Camposancos começou então a nossa aventura, nas quatro horas seguintes caminharíamos 22km até Viladesuso nosso destino final para o dia. A divertida e emocionante viagem de barco deu lugar a uma longa subida com que era brindado o nosso início do caminho de Santiago. A primeira localidade pela qual passamos foi A Guarda, uma modesta vila Galega junto ao mar, não havia tempo a perder pelo jeito seguimos rumo aos próximos destinos. A partir desta parte o caminho jamais deixou de ser ladeado pelo imponente oceano Atlântico e pelas deslumbrantes paisagens da Costa Da Galiza.

O mar dá outra profundidade e significado ao caminho, simbolizando a nossa insignificância perante à sua imensidão, faz nos pensar na nossa singularidade e pequenez. Por outro lado a sua beleza e a cadência das ondas impele à reflexão sobre a nossa vida, os nossos sonhos e inquietações. Já no final do trajeto de hoje, na bonita Vila de Oia visitámos o deslumbrante Mosteiro de Santa Maria de Oia, uma imponente construção do Século XII à beira mar. Neste local fomos muito bem recebidos por duas senhoras que nos deram sugestões para o local de pernoita em Viladesuso, para onde fomos de seguida tendo chegado pelas 20h locais. Foi então tempo de tomar um duche, jantar e descansar. Foi um dia longo mas cheio, cansativo mas muito enriquecedor e inspirador.

Amanhã partiremos rumo a Vigo, a segunda maior cidade da Galiza, terra portuária por excelência, esperam-nos cerca de 40 longos km, o nosso maior dia dos 6.

“A primeira semana do mundo

No princípio, quando Deus criou o céu e a terra, a terra estava sem forma e sem ordem. Era um mar profundo coberto de escuridão; mas sobre as águas pairava o Espírito de Deus. Então Deus disse: «Que a luz exista!» E a luz começou a existir. Deus achou que a luz era uma coisa boa e separou-a da escuridão. E Deus chamou à luz dia e à escuridão, noite. Passou uma tarde e veio a manhã: o dia um.

Depois Deus disse: «Que exista um firmamento entre as águas, para as separar umas das outras.» E Deus fez então o firmamento, separando assim as águas que estão do lado de baixo das que estão do lado de cima. E assim aconteceu. Deus chamou céu a este firmamento. Passou uma tarde e veio a manhã: o segundo dia.

Deus disse então: «Que as águas que estão debaixo do céu se juntem num único lugar e que fique à vista a terra firme.» E assim aconteceu. Deus chamou terra à terra firme e chamou mar às águas assim reunidas. E achou que tudo aquilo eram coisas boas.”

(Gn, 1-10)

André Silva e Manuel Coutinho