1918 – Há Cem Anos – setenta e oito

Infelizmente, como fica adiante demonstrado, não se confirmou a expectativa do capitão José Cândido Martinó. Ainda que tivessem perdido significado e mesmo plena capacidade, as bandas militares ainda não regressariam à Pátria…

26 de Maio – “França. A tal boa notícia que me tinham dado era que iam mandar retirar as Bandas de Música para Portugal, mas infelizmente não teve confirmação. Parece-me que as minhas malas e arquivo andam muito mal amparadas“.

Por outro lado, não tardou muito a resposta do Governo à corajosa e firme atitude colectiva da imprensa portalegrense. Na sua edição de 26 de Maio, “O Distrito de Portalegre” ostenta um flamante título: “Para a história da censura. O dito por não dito.” O conteúdo do texto é muito simples: transcreve, com breves comentários, uma nova circular do mesmo subscritor da anterior onde se comunica que, afinal, bastará remeter as provas ao Quartel local da Guarda Nacional Republicana como é costume, uma vez que nenhum diploma legitima a exigência do comando da 7.ª Divisão quanto ao exercício da censura. “Do mal o menos”, escreve ironicamente o redactor…

A propósito, ficarão de certo modo “célebres” algumas páginas de jornais de Portalegre que, nos meses próximos e numa clara demonstração de coragem e desafio, publicarão espaços em branco ou linhas truncadas, nos locais “censurados”… “A Plebe” destacar-se-á neste particular, nomeadamente com uma primeira página da sua edição de 23 de Junho de 1918, onde só no texto “República… Monárquica” surgem nada mais nada menos do que seis espaços em branco!

De notar que este ostensivo procedimento -colunas inteiras em branco, vazias dos previstos artigos a ali divulgar- tornou-se frequente na imprensa diária nacional Os exemplos são incontáveis…

18 e 19 de Maio – Portalegre: “Já ando a tomar o remédio xarope iodotónico“.

27 de Maio – “França. Tenho andado em maré de infelicidade com a minha bagagem e arquivo“.

Neste dia 27 de Maio  de 1918 começa a travar-se a 3.ª Batalha de Aisne, que se vai prolongar até 6 de Junho.

20 de Maio – Portalegre : “Na quinta feira da Ascensão houve a festa dos aventais na casa Branca; os que lá foram por causa duma grande trovoada que se desencadeou vieram muitíssimo molhados“.

21 de Maio – Portalegre: “Espera-se que ainda hoje ou amanhã chegue o açúcar a Portalegre“.

28 de Maio – “França. Cada vez me sinto mais aborrecido e desejoso por ver a situação actual liquidada. Não calculas o estado criminoso em que abandonaram o material, bibliotecas e museus dalgumas escolas!

30 de Maio – “França. Cheguei bem e parto amanhã pela manhã“.

31 de Maio – “França. Cheguei bem e talvez demore uns dois dias“.

O balanço postal deste Maio de 1918 revela: de França – 37 postais ilustrados, sendo 30 do tipo romântico, 2 de género religioso, e 5 com vistas de Wimereux (três de dia 15), Boulogne e Bordeaux (dia 24); de Portalegre – trinta e um postais ilustrados: 17 românticos, 3 com vistas da Guarda, 4 de Irun, 1 de Thérouanne, 1 de San Sebastian, 1 de Behobie e 4 de Paris.

Entretanto, a situação político-social portuguesa mantém-se tensa. No dia 27 de Maio de 1918, uma parada operária convocada pela União de Sindicatos Operários de Lisboa entra em confronto com a polícia que formava cordões para impedir a sua entrada no Terreiro do Paço.

“O Distrito de Portalegre” da véspera, 26 de Maio, publicara uma transcrição do seu colega nortenho “O Comércio do Lima”, no artigo Justas reflexões comentado por Justo. As críticas à lamentável situação vivida pelas nossas tropas em França são evidentes. Tornava-se cada vez mais difícil esconder a verdade…

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