Termina hoje a longa série dedicada a Eusébio, sem dúvida uma personalidade de relevo, e não apenas no campo restrito do futebol indígena. A sua personalidade e o seu valor como praticante projectaram-no pelo Mundo.
É certo que o Estado Novo tentou aproveitar-se da sua imagem para reflectir uma ideologia de igualdade e promoção raciais que nem sempre eram praticadas. Mas Eusébio escapou a essa armadilha, pela sua natural simplicidade e pela modéstia que sempre ostentou, libertando-se de tutelas e de epítetos fora do seu mister de profissional de futebol. O Benfica e a selecção nacional tiveram em Eusébio um suporte e uma figura de primeiríssima grandeza. Ele tornou-se, no seu tempo, modelo e sonho de todos os jovens com jeito para o pontapé na bola.
Os meios de comunicação, a imprensa, a rádio e a televisão encontraram nele um motivo de atracção e de rendimento, devido à popularidade que sempre foi desencadeada pelas referências ao “pantera negra”.
Pensando na melhor forma de findar o dossier que o blog organizou em memória e homenagem a Eusébio da Silva Ferreira, encontrei uma “solução” com duas vertentes distintas.
A primeira tem a ver com uma das minhas especiais predilecções, a banda desenhada. Como é óbvio, também esta popular modalidade comunicativa serviu Eusébio, assim como dele se serviu. Existem, até na estranja, edições ditas biográficas do futebolista, em quadradinhos. Das que conheço, a melhor, quer no seu conteúdo ou argumento, quer no seu grafismo e organização sequencial, é nacional, da autoria de Eugénio Silva, ilustrador, publicitário e criador de BD. Eusébio, Pantera Negra, publicado em 1990, foi o seu álbum de maior sucesso, com uma invulgar primeira tiragem de 26 mil exemplares. Depressa esgotada esta, foi lançada em 1992 uma segunda edição. Agora, acaba de ser apresentada e posta à venda uma nova tiragem do álbum. Aqui se evoca sumariamente essa obra de ampla e popular divulgação da vida e feitos do grande desportista.
O segundo e último apontamento dedicado a Eusébio engloba simultaneamente o clube do seu coração, o Benfica. Recordo ambos, indissoluvelmente ligados, aqui trazendo um exemplar histórico da antiga revista O Benfica Ilustrado (1957/1966), o seu número 100, correspondente a Janeiro de 1966, há quase cinquenta anos. Daí se evoca o facto de uma recente votação ter eleito Eusébio como “O Futebolista da Europa” em 1965, mais uma vitória do clube na Taça dos Campeões, com o “Pantera Negra” em evidência, assim como duas páginas mostrando-o na intimidade do seu lar, com Flora.
Eusébio da Silva Ferreira será sempre lembrado como um homem dotado de desconcertante, quase ingénua, simplicidade e de uma genial vocação para o futebol, cuja memória ficará para sempre guardada na lembrança de quem o viu jogar ou de quem pode rever os seus feitos registados em diversos suportes, nomeadamente pelo audiovisual.
Espero que a precipitada e infeliz intenção de o isolar num solene panteão, frio e distante, não impeça a proximidade dos admiradores à sua última morada, que deveria ser revestida da dignidade compatível, sobretudo adequada a quem esteve sempre no seio do povo.
António Martinó de Azevedo Coutinho